Pesquisadores do Hospital Israelita Albert Einstein (São Paulo) constatou importantes avanços técnicos da ressonância magnética ao detectar e classificar com acurácia a distensão do espaço endolinfático na doença de Ménière. Uma inovação no exame da doença, uma vez que isso só era possível nos estudos histológicos post-mortem até poucos anos atrás. A ressonância magnética ainda possibilita afastar outras causas de vertigem e de perda auditiva, na medida que avalia os compartimentos coclear e vestibular do espaço endolinfático por meio de um protocolo dedicado.
Doença de Ménière
A Doença de Ménière (DM) é uma síndrome clínica de etiologia desconhecida que consiste em episódios de vertigem, frequentemente associados à perda auditiva neurossensorial, zumbido e plenitude auricular flutuantes. A patogênese da DM é atribuída à hidrópsia endolinfática (HE), caracterizada pela distensão das estruturas do labirinto que contêm endolinfa – ducto coclear, sáculo, utrículo, ampola e ductos semicirculares –, o que é corroborado por estudos post-mortem. Porém, a relação entre DM e HE é complexa e ainda não está totalmente esclarecida.
Ressonância magnética na detecção da Doença de Ménière (DM) e Hidrópsia Endolinfática (HE)
É recente o uso da ressonância magnética (RM) na detecção da HE e da DM, permitindo sua confirmação in vivo, ao demonstrar a distensão do espaço endolinfático em pacientes com DM utilizando a sequência three-dimensional fluid-attenuated inversion recovery (3D-FLAIR) em um aparelho com campo magnético de 3 Tesla, 24 horas após a administração intratimpânica de gadolínio. Como o gadolínio se acumula na perilinfa e não atinge a endolinfa, é possível diferenciar esses dois compartimentos e demonstrar a HE.
A partir de tal achado, novos protocolos e sequências têm sido desenvolvidos para diferenciar os compartimentos endo e perilinfático na prática clínica, muitos dos quais utilizam a administração intravenosa de gadolínio. Embora a via intratimpânica resulte em maior concentração de gadolínio na perilinfa, tal via consiste em um uso off label, é menos prática e requer espera de 24 horas antes da aquisição das imagens. Por outro lado, a via intravenosa tem as seguintes vantagens: é menos invasiva, avalia as duas orelhas ao mesmo tempo, não depende da permeabilidade das janelas oval e redonda, permite a avaliação da barreira hematolabiríntica e requer menor tempo de espera até a aquisição das imagens (4 horas).
Os pesquisadores apontam diversos estudos que mostram a relação entre a detecção e a graduação da Hidrópsia Endolinfática na ressonância magnética com os achados clínicos em pacientes com Doença de Ménière. Em um desses estudos, 90% dos pacientes com Doença de Ménière apresentaram Hidrópsia Endolinfática na ressonância magnética – resultado semelhante ao encontrado em estudos histopatológicos. Foram demonstradas, também, a progressão da HE ao longo do tempo e a correlação com a perda das funções coclear e vestibular em pacientes com DM. Além de revelarem a presença de HE em grau variável nos ouvidos assintomáticos de pacientes com apresentação clínica unilateral, indicando que a DM pode ser uma doença sistêmica com evolução bilateral ao longo do tempo.
Os avanços da ressonância magnética têm mostrado que esse método de imagem é uma ferramenta robusta na avaliação da Hidrópsia Endolinfática, com resultados semelhantes aos encontrados em estudos post-mortem dos ossos temporais. A ressonância magnética permite não apenas descartar outras causas de vertigem e perda auditiva, como schwannomas (tumor benigno)vestibulares, mas também avaliar separadamente os compartimentos coclear e vestibular do espaço endolinfático por um protocolo dedicado. As técnicas de aquisição das imagens e de avaliação da Hidrópsia Endolinfática ainda estão em desenvolvimento, mas é possível que novos estudos em larga escala validem a RM como ferramenta acurada nos critérios diagnósticos da DM em um futuro próximo.
Fonte: Journal Einstein (São Paulo)